Gustavo Petro vence primárias colombianas e coloca esquerda às 'portas' das eleições presidenciais

O triunfo de Gustavo Petro foi cantado e aconteceu como esperado. O líder do Pacto Histórico recebeu mais de 80% dos mais de cinco milhões de votos que às 8h da noite (00h na Espanha); Marcando assim o campo de jogo que será uma dura batalha no primeiro turno pela presidência da Colômbia, que acontecerá no dia 2 de maio.

Com esse apoio significativo no bolso e o Pacto Histórico liderando a votação tanto no Senado quanto na Câmara dos Deputados, Petro vai acordar cedo para receber apoio e selar uma aliança com o Partido Liberal, principalmente, que neste momento é o terceira força no Congresso (o segundo lugar é ocupado pelo Partido Conservador, peça chave para os candidatos presidenciais de direita) e cuja máquina eleitoral é crucial para chegar à Câmara de Nariño nesse primeiro turno.

Em seu discurso de comemoração, Petro disse: “O que obtivemos é uma grande vitória em toda a Colômbia. Em boa parte do país somos o primeiro lugar na Câmara dos Deputados em cada departamento, e em alguns disputamos mais de uma cadeira. Somos a primeira força no Senado da República. O Pacto Histórico obteve o melhor resultado de progresso na história da República da Colômbia. Nas eleições presidenciais, dados projetados, ultrapassamos os seis milhões de votos. Estamos 'ad portas' para conquistar a Presidência da Colômbia no primeiro turno”, afirmou.

No entanto, a partir de agora nem tudo será tão fácil para o candidato oficial da esquerda. Chegou a hora de indicar sua fórmula presidencial, que no Pacto Histórico se dizia que seria a que sobraria com o segundo voto daquela coligação. Neste caso Francia Márquez, a estrela do dia como líder social, lutadora de direitos humanos e representante das vítimas e comunidades afro-colombianas historicamente assoladas pelo conflito armado, forçou mais de 680 mil votos.

No entanto, Petro vem se afastando dessa ideia, sabendo que a vice-presidência é uma das joias da coroa que poderia oferecer aos terceiros barões eleitorais uma mudança de apoio em maio. Isso pode trazer fraturas na esquerda, que conseguiu se estabilizar junto. O candidato disse que esta semana será tomada para definir, ou seja, para negociar.

O outro vencedor foi Federico Gutiérrez, que liderou a intenção de voto para ser o candidato do Team Colômbia, uma aliança de forças políticas de centro-direita, que na noite de domingo subiu ao palco para cercar 'Fico' e mostrar que vão mudar suas bases e eleitores a votar no ex-prefeito de Medellín. Com um discurso emocionado e sentindo-se como o adversário de Petro, Gutiérrez falou à Colômbia das regiões, descrevendo-se como um lutador da classe midiática, disposto a trazer ordem, melhorar a segurança, promover a economia e combater os corruptos, palavra que fala muitos dos eleitores da direita. Entre eles, os órfãos do Centro Democrático, partido do governo que teve um grande revés na votação para o Congresso (conquista 13 senadores, perdendo 6), agora localizado em sexto lugar no Senado e em quarto lugar na Câmara.

Na Seleção da Colômbia houve um importante perdedor, Alex Char, que terá que adiar suas aspirações presidenciais e repensar sua forma de fazer política ao assumir que sua popularidade local e regional valeria o apoio do resto do país, que pouco se sabe do ex-prefeito de Barranquilla, mas de todo seu poder econômico e investigações para comprar votos e movimentos agressivos de sua máquina política. Sem dúvida, um barão eleitoral que apoiará Gutiérrez, mas ele não consegue equilibrar a balança contra o peso cobrado pela esquerda.

Na Coalizão Centro Esperanza, a noite foi agridoce. Feliz Sergio Fajardo, doutor em matemática, acadêmico, ex-prefeito de Medellín e ex-governador de Antioquia, que somou a maioria dos votos, mas sem ultrapassar um milhão, em terceiro lugar que o afasta um pouco da possibilidade de conquistar o cargo para disputar com Petro a presidência no segundo turno. Em Fajardo mostrou-se feliz e, como amante do ciclismo, observou que "a primeira etapa acaba de terminar e a Colômbia espera que a unamos e curemos de tantas feridas", pelo que não só precisa do verdadeiro apoio de seus opositores – após lutas amargas e dolorosas entre os pré-candidatos daquela coalizão –, se não convencerem muitos dos oito milhões de potenciais eleitores que não votaram.

A Colômbia vai para a cama com uma visão mais clara do que está a caminho. Em outras palavras, estão definidos oito candidatos presidenciais (Petro, Gutiérrez, Fajardo, que foram definidos hoje; Ígrid Betancourt, Luis Pérez, Óscar Iván Zuluaga, Germán Córdoba e Rodolfo Hernández, candidatos que não participaram das consultas para se inscrever diretamente no primeiro colo). No entanto, esta lista deverá ser reduzida para quatro ou cinco antes do mês de maio.

O país vai acordar para ver que o cenário político está embaralhado novamente. Um novo e último jogo. Agora as coligações têm seu candidato oficial, o voto de opinião é citado em alta para os presidenciais; O Congresso, com liderança clara da esquerda e centro-esquerda, trará mudanças e será crucial na definição do próximo presidente. Mas só os colombianos darão a última palavra.