Cristina Macaya, despedida emocionada de um dos melhores patronos da Espanha

“Eu a amava e a amo muito. Eu a respeitei e respeito e a tenho em meu coração. Passei esses dias quase sem dormir. Sábado passado eu a vi pela última vez, ficamos muito tempo juntas, ela ficou super feliz, dei uns beijinhos nela e ela disse 'fica mais, volta logo'. Ela percebeu que estava errado, mas também que era muito amada. E isso é muito importante”, diz emocionado à ABC Bartomeu Català, sacerdote maiorquino e presidente do Proyecto Hombre nas Ilhas Baleares, um dos melhores amigos de Cristina Macaya.

A empresária e filantropa faleceu esta quinta-feira na sua casa em Maiorca, aos 77 anos, após vários anos a lutar contra um cancro. Uma doença que, como diz o padre Bartomeu, vivia à distância: “Eu sofri e sofri mas contemplei, não vivi. Fazia anos que ele era operado, ia ao posto de quimioterapia e depois ia ao supermercado comprar porque tinha gente para jantar. Nos últimos anos, fiquei impressionado com sua força física e mental”.

Juntos, eles conseguiram construir a sede do Proyecto Hombre na ilha. “Ele não apenas disse, mas fez. Com o Proyecto Hombre ele se voltou para detalhes muito pequenos e até para coisas muito grandes”. Para Macaya foi uma das suas grandes obras e da qual também se orgulhava, como disse a esta escritora há dois verões, durante uma visita à sua propriedade Establiments com a amiga Ágatha Ruiz de la Prada. “Não gosto de recolher esmolas. Eu tenho que ajudar a trabalhar no projeto. Temos um edifício de 10.000 metros quadrados. Espere muita gente. O mais difícil de largar é o vício do álcool e agora tivemos que trazer especialistas para curar o vício em celulares e videogames”, explicou.

Como presidente da Cruz Vermelha na Espanha, ela também deixou sua marca ao criar a famosa rifa de ouro: “Percebi que com 800 centros, mais de vinte hospitais, isso não poderia ser sustentado. Então eu inventei a coisa do ouro porque me dava muito dinheiro. Era 1980 e o ministro da Economia, Leal Maldonado, não quis autorizar. Então procurei minha vida e ele pediu ao meu amigo Carlos Bustelo, então ministro da Indústria, que assinasse um papel sem importância para mim que me daria um prêmio. Depois liguei-lhe para lhe agradecer e dizer-lhe que merda lhe tinha feito ao assinar aquela ordem", disse a este jornal, a rir.

moda ousada

"A Cristina tem sido uma das melhores mecenas que tivemos em Espanha, tanto a nível social como laboral", afirma Santiago Vandrés, que foi o seu costureiro-chefe. “A moda estava nela, ela era vanguardista e sempre pedia mais, queria dar o melhor de si. Era sua carta de apresentação para outras pessoas quando ele ia a algum lugar", explicou. Ela amou participar da criação, mas odiou experimentar: “Ela sempre teve o mesmo tamanho, foi genético da mãe dela que também era uma mulher supermagra e sempre manteve o mesmo peso. Tínhamos o mesmo tamanho e ele me disse 'você experimenta e eu experimento já pronto' (risos)”. Mas além dos vestidos, sua verdadeira paixão eram os sapatos. Ele tinha uma coleção inumerável e as colocava como esculturas em seu camarim. “Ele dizia que tinha do 35 ao 37, dependendo de como ele gostava, sofria para colocar”, lembra o estilista Vandrés.

Imagem principal – Acima; Cristina Macaya com Plácido Arango, a quem esteve unida durante 17 anos. Esquerda; Cristina Macaya com o padre e amigo maiorquino Bartomeu Català. Certo; O ator Michael Douglas

Imagem Secundária 1 – Acima; Cristina Macaya com Plácido Arango, a quem esteve unida durante 17 anos. Esquerda; Cristina Macaya com o padre e amigo maiorquino Bartomeu Català. Certo; O ator Michael Douglas

Imagem Secundária 2 – Acima; Cristina Macaya com Plácido Arango, a quem esteve unida durante 17 anos. Esquerda; Cristina Macaya com o padre e amigo maiorquino Bartomeu Català. Certo; O ator Michael Douglas

chegar; Cristina Macaya com Plácido Arango, com quem esteve junto por 17 anos. Esquerda; Cristina Macaya com o padre maiorquino e amigo Bartomeu Català. Certo; ator michael douglas

No restaurante Maca de Castro, em Port de L'Alcudía, sua proprietária e chef – laureada com uma estrela Michelin – lamenta a perda de seu amigo. “Ele era uma pessoa única e agora percebo a importância que ele teve na minha vida. No final, muito do que sou é graças a ela. Ele inadvertidamente me ajudou a me posicionar na ilha e fora dela. Abriu-me muitas portas, até a nível internacional”, diz Maca. Ele não se despediu dela porque Cristina não gostou. “Ela era francesa”, diz ela. Se a jovem cozinheira da amiga vai sentir falta de alguma coisa, serão as madrugadas em que saíam para um evento ou festa e acabavam sempre com um costume que se tornara ritual, comer sobrasada no balcão da cozinha.

Se em alguma coisa todos que a conheceram bem concordam, é que ela era uma pessoa de espírito livre que sempre fazia o que queria, mas a favor do povo. A 'Dama do Vale' como alguns a apelidaram por causa de sua propriedade paradisíaca de mais de 50 hectares, 'Es Canyar', em Estabelecimentos e porque fazia festas na moda na ilha. “Ela interagia com todos ali, mas sobretudo com o povo de Maiorca. Disse que era preciso fazer coisas com os maiorquinos, o que acontece é que depois ficou com aquele cunho cosmopolita e internacional de muita gente”, explicou José María Mohedano, advogado, ex-político e amigo íntimo de Macaya. Para além do seu papel de anfitriã, destaca-se o seu papel de patrona das artes e como ajudou pintores proeminentes da ilha a destacar-se e a vender.

plantou Clinton

Ele coincidiu com Michael Douglas e sua esposa Catherine Zeta-Jones em 'Es Canyar'. “O primeiro lugar que ele a levou quando foram para Mallorca, recém-casados, foi para conhecer Cristina”, lembra. E é que Macaya já teve um relacionamento com Kirk Douglas, pai do ator, e com políticos e membros da realeza de todo o mundo. Mohedano lembra uma anedota de quando Bill Clinton veio passar alguns dias na fazenda de Cristina na ilha. “Quando o presidente dos Estados Unidos chegou com toda a sua comitiva à tarde, recebeu-o e depois vestiu-se de lantejoulas e disse-lhe 'aqui é a tua casa, mas esta noite tenho uma festa em Barcelona.' E ele foi para o aeroporto e voltou no dia seguinte”, lembra. E é que Macaya não dava importância a essas coisas e sabia ser feliz e fazer os outros felizes. Junto com os amigos, a família será um pilar importante para ela. Sempre consciente de seus quatro filhos (Sandra, Cristina, Javier e María) fruto de seu casamento com o empresário Javier Macaya e de seus 18 netos. Tudo encomendado nos Estados Unidos.

Ela teve um relacionamento amoroso com Plácido Arango, empresário mexicano, fundador do Grupo Vips e grande patrono das artes por 17 anos. Foi o grande amor da sua vida? “Fui casado apenas uma vez. Eu e o Plácido nos dávamos muito bem, sabíamos dar espaço um ao outro. O amor não tem nada a ver com a minha vida, não me mudam nem gosto de estar casada", respondeu a este jornal.

Hoje, sábado, na igreja de Santa Cruz de Palma de Maiorca, celebrará a sua missa fúnebre e, mais tarde, será sepultada no cemitério da ilha, pois sempre se opôs à cremação. A incansável viajante de sorriso eterno e olhar penetrante já embarcou em sua mais longa jornada. D.E.P